13 MARIA DO MAR

13 MARIA DO MAR

Vou enterrar um boneco do rato Mickey. Foi dado pelo meu avô à minha mãe, da minha mãe foi para o meu irmão e para mim. Tenho 9 anos, ele tem 11. Não conheci o meu avô, queria que isto fosse guardado. Sempre adorei o mar, está no meu nome. O meu avô disse à minha mãe que, se tivesse uma menina, devia ter o nome do mar. Fui fazer férias desportivas, experimentei vela e gostei muito. Pensavam que os rapazes eram melhores, como no futebol, mas uma menina do nosso clube ficou em segundo no Mundial. As raparigas estão cada vez mais fortes. Eu não vou ao Europeu nem ao Mundial. Há agora um Nacional na Madeira, vou faltar uma semana às aulas. Na escola têm de aceitar! A minha professora diz: “Vais perder matéria!”, mas reparou que eu consigo recuperar facilmente.

Quero ser treinadora de vela, mas não quero deixar os estudos. Antes tinha muitos sonhos, passei por alturas estranhas. Queria ser educadora de crianças, depois cabeleireira, professora. Tenho uma amiga que vê a escola e diz: “Olha aqui o Inferno”, mas eu acho que a escola é interessante. Em Portimão há muitos dias de vento no Inverno.

Gosto de navegar e ir para longe quando está médio ou pouco vento, mas quando está muito… como sou levezinha o vento e as ondas levam-me, quase não tenho de fazer nada. No mar, quando a água fica escura quer dizer que vem um vento mais forte do que o constante. Tenho de estar preparada para pranchar e inclino-me para fora do barco. Cada dia levo um raio de nervosismo e quando acabo as regatas tenho um sol de alegria. Porto, Faro, Lisboa, Costa Nova, Aveiro, Lagos: vou velejar a muitos sítios. No Verão vou muitas vezes a Espanha. Todos os desportos têm dificuldades. O mais importante é a concentração, a paciência. Toda a gente tem capacidade. Eu nunca quis desistir e acho que nunca vou querer. Se tivesse de convencer uma criança a fazer vela, primeiro perguntava se ela gostava do mar. Acho que uma pessoa que não gosta do mar é uma pessoa estranha. Eu quero enterrar o Mickey perto do mar, é mesmo isso. Perto do farol, onde há mais ondas. Podia também fazer um nó numa corda, o nó direito. Posso unir as mãos do Mickey com um nó da vela. Quando era pequena não tinha esta ligação com o mar, como tenho agora.

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I’m going to bury a Mickey Mouse toy. It was given by my grandfather to my mother, and from my mother, it went to my brother and me. I’m 9 years old; he’s 11. I never met my grandfather, so I want this to be kept safe.

I’ve always loved the sea—it’s even in my name. My grandfather told my mom she should give her a sea-inspired name if she had a girl. I went to a sports camp, tried sailing, and enjoyed it. Some people think boys are better, like in soccer, but a girl from our club actually placed second in the World Champi­onships. Girls are getting stronger all the time.

I’m not attending the European or World Championships, but a Nationals in Madeira is coming. I’ll miss a week of school, and they’ll have to deal with it! My teacher said, “You’re going to miss material!” but she also noticed I could catch up quickly.

I want to be a sailing coach, but I also want to continue my studies. I’ve had many different dreams, and I’ve gone through some confusing times. I wanted to be a childcare worker, hairdresser, and teacher. One of my friends looks at school and says, “This is hell,” but I think school is interesting.

In Portimão, there are lots of windy days in winter. I like to sail out far when the wind is mild, but when it’s really strong… I’m light, so the wind and waves carry me along without much effort. On the water, a stronger gust is coming when it gets dark, so I have to be ready to hike out. Every day, I carry a spark of nerves, and when I finish the races, I’m filled with a sunbeam of joy. Porto, Faro, Lisbon, Costa Nova, Aveiro, Lagos—I’ve sailed in many places, and in the summer, I often go to Spain.

All sports have challenges, and focus and patience are the most important. Everyone has the ability. I’ve never wanted to quit, and I think I never will. If I had to convince a kid to try sailing, I’d first ask if they like the sea. I think someone who doesn’t like the sea is strange.

I want to bury Mickey near the sea, for sure. Close to the lighthouse, where the waves are the biggest. I could tie his hands with a simple sailor’s reef knot to make a small connection. When I was younger, I didn’t have this bond with the sea like I do now.