15 RITA
Chamava-se Pedro Afonso e era meu primo, tinha 18 anos quando morreu. Nasceu no dia da cidade, a 11 de Dezembro de 2000. Jogava futebol, era o número 3. Durante os fins de semana vinha aqui jogar e toda a família ia ver. Tenho este astronauta para colocar na árvore de Natal, que arranjámos depois de ele morrer. Quando fez 16 anos escrevi-lhe uma dedicatória: és um planeta onde só o melhor acontece. Recordámos muito essa frase.
Ele andava por toda a cidade. A escola era no centro, na Teixeira Gomes, onde estavam os seus amigos. Há aí uma zona de jardim. Gostava de enterrar este astronauta e ainda não falei com o resto da família, mas eles confiam em mim.
Trabalho numa associação da cidade, a Teia de Impulsos. Fazemos projetos culturais e sociais com jovens com deficiência, eu trabalho na parte da comunicação. Levamos a vida de outra forma. O que acabo por fazer na comunicação é contar as histórias. Estas tragédias que acontecem tornam-nos mais humanos, e por isso sinto que conto melhor as histórias dos outros.
A ideia de quem criou a associação foi que a teia unisse vários impulsos sociais, culturais, desportivos, para ligar e alimentar a cidade. Temos um campo de férias no Verão só para jovens com diversidade funcional, física e psicológica. Dura mais de um mês e recebemos cerca de 20 jovens, muito diferentes e de várias idades. Fazem canoagem, vão à praia, cozinham. Estão connosco o dia todo. O nosso sonho é que isso aconteça em todo o país.
Temos o Lota Coolmarket, um mercado de artesanato com uma vertente ambiental, roupa reciclada, queijos, licores, concertos. São quatro dias no final de julho. Temos também a Rota das Tapas, já com 11 anos. Temos uma equipa de vela adaptada, para adultos com deficiência. Em 2023 ficaram em terceiro lugar do mundo. Organizámos o campeonato do mundo na marina de Portimão.
Quando o Afonso morreu foi um choque para a família, mas somos muito unidos e o que queremos é recordá-lo, falar dele e criar memórias felizes. Não queremos andar de preto. Não condenamos quem o faz, cada pessoa tem a sua forma de luto, mas somos muito positivos. Ele era uma pessoa tão alegre, com tantos sonhos interrompidos, que não podemos deixar de percorrer os nossos, queremos ter mais sonhos e concretizar coisas também em memória dele, para que faça sentido. Por nós e por ele. Muitas vezes, em pequenino, danado, fazia uma mochila e dizia que ia sair de casa. Mas “voltava” sempre.
:::
His name was Pedro Afonso, my cousin, and he was just 18 when he passed away. He was born on City Day, December 11, 2000. He played football and wore the number 3. Every weekend, he would come here to play, and the whole family would come to watch. I have this astronaut to hang on the Christmas tree, which we put up after he died. When he turned 16, I wrote him a dedication: “You are a planet where only the best things happen.” We often remember that phrase.
He loved to roam around the city. His school was in the centre at Teixeira Gomes, where all his friends were. There’s a garden area nearby. I want to bury this astronaut. Although I haven’t talked to the rest of the family yet, they trust me.
I work for a local association called “Teia de Impulsos.” We run cultural and social projects for young people with disabilities, focusing on communication. My role involves sharing stories. These tragedies make us more human, and because of them, I tell the stories of others more effectively.
The idea behind creating the association was to weave various social, cultural, and sports initiatives to connect and enrich our city. We have a summer camp exclusively for young people with functional diversity, both physical and psychological. It lasts over a month, and we welcome about 20 young people of various ages and backgrounds. They do activities like kayaking, going to the beach, and cooking. They spend the whole day with us. Our dream is to see similar initiatives across the country.
We also organise the “Lota Coolmarket”, an artisan market with an environmental focus featuring recycled clothing, cheeses, liqueurs, and concerts. This event runs for four days at the end of July. We also have the “Rota das Tapas”, which has been going for 11 years. Additionally, we have an adapted sailing team for adults with disabilities, which won third place in the world in 2023. We organised the world championship at the marina in Portimão.
When Afonso died, it was a shock for our family, but we are very close-knit, and we want to remember him, talk about him, and create happy memories. We don’t want to wear black. We don’t judge those who do; everyone has their own way of grieving, but we choose to be positive. He was so cheerful, with so many dreams cut short, and we can’t help but pursue our dreams in his memory. It’s a way to make it meaningful—for us and him. Many times, when he was tiny and mischievous, he would pack a backpack and say he was leaving home. But he always, ‘came back.’